quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Che Guevara – Hasta La Victoria Siempre!

Che Guevara – Hasta La Victoria Siempre!

João Vasconcelos (*)


1. A consciência revolucionária





No passado dia 9 de Outubro passaram 40 anos sobre a morte de Ernesto Che Guevara, executado friamente às ordens da ditadura boliviana do Presidente Barrientos que, por sua vez, se encontrava a soldo da administração imperial norte-americana.
Afinal, quem foi Che Guevara? Che nasceu em 14 de Junho de 1928, na Argentina, filho de uma família de pequenos proprietários rurais. Desde cedo o pequeno Ernestito sofria de ataques de asma e por esta razão, aos 12 anos mudou-se com a família para as serras de Córdoba, onde morou perto de uma favela. Embora pertencendo à classe média Argentina, Che fez várias amizades com os pobres descamisados.
Em 1947 Che entrou em medicina na Universidade de Buenos Aires terminando o curso em 1953, fazendo, no entanto, uma interrupção em 1952. Neste ano, com uma moto Norton 500, chamada “La Poderosa”, fez uma longa viagem de 10 000 km durante oito meses por toda a América do Sul, ficando chocado com a pobreza e a injustiça social que encontrou ao longo da sua jornada.
Após se formar em medicina, em 1953 partiu rumo à Bolívia e Guatemala, apoiando neste país o governo popular de Jacob Arbenz e alistando-se num programa de saúde entre a população indígena empobrecida. Quando em 18 de Junho de 1954 o governo de Arbenz foi derrubado por mercenários apoiados pelos E. U. A., o jovem médico argentino considerado “perigoso comunista”, foi incluído nas temíveis listas negras dos condenados à morte e obrigado a refugiar-se no consulado da Argentina. Neste período, Che retirou as suas primeiras lições sobre a luta emancipadora do continente americano: “que a luta revolucionária seria o único instrumento para se conquistar um poder verdadeiramente democrático, popular e socialista”, e que “o imperialismo norte-americano era o principal inimigo dos povos da América Latina”. O jovem Che atingira a maturidade da sua consciência revolucionária.

2. El Comandante



Depois de expulso para o México Che Guevara contactou a oposição cubana ligada ao “Movimento 26 de Julho”, de Fidel Castro, que o convidou a participar na expedição para derrubar o ditador Fulgêncio Batista. Um ano depois, em 1956, 82 homens incluindo Guevara e Castro desembarcaram na ilha de Cuba a bordo do iate “Granma”, sobrevivendo apenas 15 revolucionários que se refugiaram na Sierra Maestra, depois de duros combates com o exército de Batista.
Com o apoio dos camponeses e de grande parte da população cubana os “guerrilheiros barbudos” triunfam em 1959. Triunfava a revolução em Cuba no dia 1 de Janeiro com a entrada de Fidel em Havana e a vitória de Che, nomeado El Comandante (denominação que nunca mais o abandonou), na batalha de Santa Clara.
Depois da vitória El Comandante guerrilheiro tornou-se cidadão cubano, foi Presidente do Banco Nacional de Cuba e Ministro da Indústria, onde defendeu uma rápida industrialização e nacionalização de uma economia diversificada e a implantação de um planeamento centralizado. As suas ideias entraram em choque com os Soviéticos que pretendiam uma Cuba não industrial, assente na monocultura do açúcar e que estabelecesse uma relação de interdependência com o chamado bloco socialista. Não obstante ser considerado o 2º homem mais importante de Cuba, Che estimulou e participou nas brigadas de trabalho voluntário.
Depois do corte das relações diplomáticas dos E. U. A. com Cuba em 1961, Che Guevara discursou na Assembleia Geral da ONU e viajou pela América Latina, África e Ásia onde divulgou os ideais da revolução cubana. Inesperadamente, abandonou todos os cargos em 1965 - o seu ideal era a revolução mundial, um mundo mais justo e solidário, livre de explorados e de exploradores. Depois de uma tentativa revolucionária frustrada no Congo em 1965, Che partiu para a Bolívia onde tenta estabelecer uma base guerrilheira para lutar pela unificação dos países da América Latina. Enfrenta dificuldades com o terreno desconhecido e não recebe o apoio do Partido Comunista da Bolívia, de obediência soviética, que não queria envolver-se com o movimento guevarista.
Descoberto pelo exército boliviano, o grupo de 16 guerrilheiros foi massacrado e Che foi ferido em combate e capturado no dia 8 de Outubro de 1967. No dia 9, a mando de Barrientos, El Comandante foi sumariamente executado com nove tiros numa escola na aldeia de La Higuera. Por ordem de Félix Rodríguez, agente da CIA, o seu corpo foi enterrado clandestinamente pelos militares bolivianos e por mais de 30 anos o local permaneceu desconhecido.
Os seus restos mortais foram encontrados em 1997, quando o mundo recordava os 30 anos da sua morte, sob o terreno do aeroporto da cidade boliviana de Vallegrande. Em 17 de Outubro deste ano, Che foi sepultado com todas as honras na cidade cubana de Santa Clara, onde liderou a batalha decisiva para o derrube de Batista.

3. O legado de Che


Tudo foi feito para apagar a imagem e o exemplo do mais célebre dos guerrilheiros, herói da revolução cubana e da resistência congolesa, profeta de uma América Latina unida na luta contra a globalização imperial. Não serviu de nada, quatro décadas depois Che zomba dos seus carrascos. Ele ilumina os sonhos e os combates mais nobres dos povos, particularmente da juventude, geração após geração. A sua foto de olhar no horizonte e boina estrelada, tornou-se o ícone mais conhecido do século XX, não se conhecendo na história um outro morto tão vivo.
Este herói transformado num ícone e num mito foi um pensador do progresso, foi um militante revolucionário que queria a construção de uma sociedade efectivamente socialista e que rejeitava todos os falsos socialismos. Foi um semeador de consciências pelo mundo inteiro e com o seu exemplo abnegado fez, e continuará a fazer, a lavoura da rebelião contra o mundo dominado pelas injustiças e pela tirania da globalização armada neo-liberal.
O seu sonho de um mundo mais justo e onde todos se pudessem chamar de irmãos permanece vivo. O seu exemplo permanece como uma lúcida e clara lição de humanismo radical, de não conformismo e de rebelião justa contra todas as injustiças. A sua história é antes de tudo, um grito de luta e liberdade.
Pelas suas ideias e pelo seu exemplo, Che Guevara foi verdadeiramente um revolucionário de vanguarda. Honra à sua memória e que novos Ches se levantem. Hasta La Victoria Siempre!

(*) Professor de História e Investigador

Nota: artigo publicado no jornal Barlavento de 31 de Outubro de 2007.

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